sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sossegos da noite...


Matadores de aluguel aguardam seu alvo,enteados na fumaça e nos vapores da fatalidade.Disparos de pistola com dedos metálicos assistem ao cadáver sucumbir no chão.São tantos outros mortos desfilando em retinas,que já não percebem nada,nem um resquício sequer de piedade.Resignado,pensa que este foi o único caminho que lhe restou.A aurora e o outono,no ar o rasgo de um silvo de prata,o sopro do vento que ali revela mais um ser transformando-se em nada.A paixão desgarrada,o alheamento a todo sangue,o fracasso inevitável,o perfume da solidão ao ver flores doerem num epitáfio.Eis que irrompe de um monumental edifício:o suicida encontra sua verdade.As rosas dispostas aleatoriamente pela sala exalam um mutismo vermelho,o altar dependurado é indiferente ao discurso da mente,olhos úmidos e bocas salgadas,que circulam o oculto e o impiedoso,cumprindo seu desígnio.Num barco o homem e o mar aberto,o oceano implacável abarca o palpitar do pulso solitário,a morte estende os seus domínios.Anunciado o fim,festivais de lenços brancos agitam-se nas pedras do porto.O navio atraca repleto de sombras,o coração de uma mãe cujo filho que
(diz:deixarei como um náufrago,mensagens aprisionadas em garrafas,cruzando mares e oceanos,que talvez nunca cheguem a seu destino) não chegou,tornando agora,uma rocha maior do que o cais.Refazendo esse rumo,esse rio,esse nome,essa noite,essa erva,essa cena,vozes secretas que explodem sob o inferno de trovões
nos ventos
no ritmo
no medo
na lua.




Andrei Tavares.